OS JOVENS E O CONSUMO DE CIGARRO

15/11/2011 22:48

* Dr. Diego Amadeu Batista Bragante (Psicólogo, CRP 06/74506)

 

Um estudo do Instituto Nacional do Câncer, divulgado em setembro de 2010, reuniu dados sobre a atual situação do tabagismo no Brasil e trouxe à tona problemas graves em relação ao consumo juvenil de tabaco. Entre eles: metade dos adolescentes com idade entre 13 e 15 anos já comprou cigarro, cuja venda deveria ser restrita aos maiores de 18 anos. O levantamento, que reuniu dados de pesquisas realizadas entre 2002 e 2009 pela Organização Mundial da Saúde, revelou que a publicidade de cigarro dirigida a jovens é cerca de 70% maior do que a adultos e é na faixa etária entre 17 e 19 anos que os fumantes brasileiros se iniciam. Sabe-se que nem todos os adolescentes que experimentam cigarros se tornam fumantes, mas que a experimentação é o primeiro passo e a iniciação precoce aumenta significativamente os riscos de adoecimentos.

Para entender por que um jovem começa a fumar, é preciso atentar para algumas importantes características: o adolescente, na maioria das vezes, quer parecer mais velho, fazer parte de um grupo e não tem a completa percepção de consequências a longo prazo. É inerente à adolescência o imediatismo e o prazer. Assim, uma abordagem mais ampla sobre o cigarro visará expandir as noções que os jovens têm de prazer e identidade grupal, ajudando-os a valorizar a autonomia de suas escolhas.

Ao querer parecer mais velhos do que de fato são, os adolescentes olham para os adultos em busca de um modelo de comportamento. Sendo os pais os adultos de referência do adolescente é comum que ele os imite também no quesito fumar. O mesmo vale para os professores. As pesquisas mostram que em lares em que pelo menos um dos pais fuma, é maior o número de adolescentes que inicia esse hábito.

Além do exemplo, temos no Brasil um acesso livre dos adolescentes ao fumo. As primeiras tragadas não vêm da compra do produto, vêm do acesso livre ao mesmo. Não é incomum pais que fumam pedirem a seus filhos que comprem cigarro num ponto próximo a casa, ensinando aos filhos o caminho para a aquisição do tabaco.

O fato de estar em busca de sua identidade faz com que o fumar transmita ao adolescente a possibilidade de se reunir e de pertencer a um determinado grupo, o que costuma ser amplamente utilizado pelas empresas de tabaco. Apesar da proibição da propaganda de cigarros em diferentes mídias, 46% dos adolescentes entre 15 e 24 anos viram propaganda de cigarro nos últimos 30 dias. Nessas propagandas, em geral, se reforça a ideia de que fumar este ou aquele cigarro dá características comuns a outros fumantes do mesmo produto. Muitos cigarros costumam ser patrocinadores de competições esportivas associando sua imagem à força e liberdade. Outro dado muito importante revelado pela pesquisa do INCA: em 2008, 17,5% da população brasileira com 15 anos ou mais eram usuários de algum tipo de tabaco (fumado e não fumado), o equivalente a cerca de 25 milhões de pessoas.

O consumo de tabaco também está relacionado à escolaridade: quanto menor o nível de instrução, mais cedo se começa a fumar. Entre os fumantes, 40% dos que começaram a fumar cedo tem pouquíssima escolaridade. Os mais instruídos iniciam-se no vício, entre 17 e 19 anos e os menos instruídos, abaixo dos 15 anos de idade. As regiões Nordeste e Centro-Oeste registraram a maior proporção de indivíduos que começaram a fumar com menos de 15 anos. Também são essas as regiões com maior dificuldade de acesso dos jovens à educação. As diversidades culturais também devem ser relevadas. Em alguns lugares, o hábito de fumar está arraigado ao modo de viver da população.


O papel da escola

Quanto mais cedo se começa a fumar, mais graves os problemas de saúde. A diferença de um ano pode dobrar os riscos de danos à saúde. Com isso, percebemos a importância da escola no combate ao consumo de tabaco, porque quanto mais instruído o adolescente é, melhor ele estabelece a relação de longo prazo entre causa e consequência. Maior probabilidade de eficiência na abordagem educativa. Esta deve acontecer, quando há espaços planejados e intencionais, nelas os comportamentos e escolhas dos jovens também devem ser entendidos como fazendo parte do conteúdo a ser incorporado no trabalho pedagógico.

A pesquisa International Tabacco Control – ITC Brasil -, realizada em três capitais brasileiras, em 2009, mostra que 95% dos fumantes têm conhecimento da associação do fumo com doenças cardíacas e 96% conseguem relacionar o consumo do tabaco com câncer de pulmão. A compreensão da passagem do tempo, com suas consequências, que parecem para o adolescente muito distante, dificulta dar a devida importância às consequências que o tabaco podem ter na vida do sujeito. Por isso, a relação com o tempo deve ser trabalhada pelos professores em matérias como história e matemática, por exemplo, que auxiliam nesta compreensão. O que fará com que a informação de que o cigarro faz mal no futuro tenha importância no aqui e agora.

A discussão ou exemplos que incluam o combate ao uso do fumo dever estar presente com naturalidade nos exemplos dos professores. Claro que momentos de reflexão sobre o tema têm sua importância, mas o alerta sistemático dos professores para o risco do fumo associado à compreensão de outros conteúdos pode ser muito mais efetiva.

FONTE: https://www.medicinadocomportamento.com.br/textos_temaslivres31.php